E olhando para aquela ampulheta, entupida, nenhum grão mais descendo, quase pude crer que o tempo pudesse parar. O tempo ali, guardado. Dependendo de mim, e só de mim para voltar a andar. Um leve toque com os dedos, a fim de desentupir o estreito caminho dos segundos.. e pronto..

sonhador sonhando só.

e o mendigo, contando o tempo em seus centavos, pára, me olha com cara de sabido.
me pergunta: ele não te faz feliz?
e eu respondo: não, ele me faz melhor.

após longa procura, sem ponto final, adormeço. triste.

qual a lacuna, entre o que se diz e aquilo que se escuta?
sutilezas. o que é dito durante cada silêncio?
pausa.
som.
falhas, faltas, entrelinhas, entre-olhares.
percepção turva. onde começa o que e o que termina aonde.

após longa tristeza, sem início, meio ou fim, procuro..

Me perco na lembrança dos olhos teus.
me perco em suas mãos e em seu jeito de dizer adeus.
Me encontro em seus lábios, suas lágrimas, seus cabelos.
Fujo ouvindo seus gritos,
meu pranto, seus apelos.

Quando te vi senti a dor
de encontrar um grande amor.

Amar.
Querer amor.
Ser amado.
Sentir a dor.
Querer.
Querer ter.
Ter. Perder.
Sentir você.

e essa paz. essa saudade calma.
e esse passo aí, que demos então.
é essa paz. essa saudade que acalma.
passo pra frente, pra trás. passo juntos.
em conjunto.
e essa felicidade.

e é bonito sim
poder dizer que não
poder contar de mim.
é importante. claro que é.
te ouvir, te entender
e ser feliz se der.

Walts Nº 6 in D Flat Major Op. 64/1 (Polka). Chopin.

e você escorre entre minhas mãos.
te perco, te encontro. esqueço.
e você é minha ilusão.
te invento, te espero. desapareço.

Quando você se esconde, foge de mim.
Quando você me esquece, diz que é o fim.
Eu grito, eu choro, eu não acredito.
Eu brigo e digo que por favor não esqueça,
Não fuja, não desapareça.
Mas se você chega, voltando, enfim.
Dizendo que ama, essas coisas assim.
Eu grito, eu choro, eu não acredito.
Eu brigo que por favor esqueça,
que fuja e desapareça,
Mas que não minta pra mim.