segunda-feira, outubro 26

pausa. também faz parte da música.

segunda-feira, outubro 12

Já não sabia se vivo ou morto..
naqueles dias, parecia não existir.
sua voz era abafada por longos silêncios.
sua importância reduzida aos bom-dias.
Não havia toque. Não havia olhar.
Havia apenas ideias e solidão.

quinta-feira, outubro 8

Só resta-me o amor
apenas ele é constante
só resta-me a certeza rara
Já não é chama nem brasa
nem o que era ou seria
Resta-me apenas o que sobra
e me guia.
Quando a beleza é vasta
e o olhar turvo
a esperança balança
a certeza escassa
Mas o que resta, é amor puro.
Depois de tudo
O que resta é água
Depois da curva
O que resta é sangue
A luta diária é o amor sem amarras
o amor que enxerga,
e ainda assim, persiste.

quarta-feira, outubro 7

A morte
Na data cabida,
O antigo terno engomado,
Um poema jamais publicado,
Uma canção jamais ouvida.

sábado, outubro 3

Quem divaga sabe
As palavras fogem
Laço-as
E as trago pra cá.

quinta-feira, setembro 17

faz tempo, gosto de ti
teus olhos a perderem-se no horizonte
e eu já gostava de ti.

quarta-feira, setembro 2

Aos pés do Danúbio
Declaraste teu medo
Aos meus pés
Teu segredo
Debaixo da lua
Outra lágrima tua
E o rio a passar
Um gole e outro
Mais abraço e má sorte
Aos pés do Danúbio
Abandonaste-me

domingo, agosto 23

que levem as horas as palavras,
que renovem o pensamento os momentos.
que palavras não dizem sentimento,
que palavras voam com o vento.

que levem, então, as palavras o vento.
que renovem os pensamentos os momentos.
que as horas não gastam sentimento,
que palavras são contra-tempo.

sexta-feira, julho 24

queria gritar
o vento calou
a chuva fina
meus lábios beijou
estava a falar
o tempo fechou
já vem abraçar
o que restou
estava a pensar
pássaro levou
bela menina
o fim não chegou
falei em amar
o ar me faltou
paixão desatina
só recomeçou

quarta-feira, julho 8

Danço num ritmo diverso do teu
estou sempre a pisar-te o pé, e tu o meu.
Fecho os olhos e sigo as guitarras
e tu andas como as fanfarras
A fanfarronear pela avenida
Com pompa, seguindo tua vida.
Danço num ritmo lento
e tu danças parado
Ando para frente
Tu voltas pro outro lado
Mas continuamos nossa dança
Aguardamos na esperança
de que nenhum ritmo seja errado
Esperando que a próxima banda
tenha músicos melhor afinados.

sexta-feira, julho 3

Um dia hás-de vir ao meu recinto.
Aqui encontrarás meu mundo.
Se sentares aqui, onde agora estou, verás o Douro, uma quadra de São João recém chegada, e um dos mapas de casa: O Porto.
Um dia hás-de vir cá. Ver a foto na secretária, com os sorrisos de outrora.
Um dia hei-de mostrar-te: As fadistas a fazer festa nas paredes, ao lado dos índios Piaçangueras.
É mesmo de fazer piada.
Tinhas razão. Sou de cá e sou daí.
Sou memória, e és parte.
Um dia hás-de saber..

terça-feira, maio 26

A força é farsa
Disfarço
Senhora para prantos
A farsa é forte
A força é crua
Disfarçada de dor
do outro lado da rua

sexta-feira, maio 15

Seria mesmo toda a leveza..
Insustentável?
O poema leve
levado pelo vento ao teu peito
Seria irremediavelmente a leveza..
Instável?
O coração leve
levado pelo vento ao teu leito
Serei eu maleável
por deixar ser leve o pensamento?
Busco a leveza do tempo
Te encontro e te levo. Está feito.
Dá-me cá um gole
deste teu sabor tinto
Dá-me cá a tinta
que colore nossa história
Dá-me cá o beijo
de vinho rosso seco
Seca esta saudade
que já não foi embora.

terça-feira, maio 5

Não precisar de ti
É estar livre para querer-te.
Estar só
É estar livre para escolher-te
Deixe-me ser..

segunda-feira, março 2

solitariedade
e algo diz-me que não vai passar.
Iludo-me
Ludibrio-me com as palavras
Em busca de uma resposta
Um lapso relevante
Um prolapso fulminante
Não páro.
Respiro esperança
Num último cigarro.
Um trago de lucidez
delírios da embriaguez.
Cansei.
Peço às palavras que me levem
deixem-me longe da sanidade
mesquinha e absurda.
Deixo a ilusão ser minha companhia
a me tirar de aqui.
Só busco a gota d'água que me levará de volta a mim mesma
Só busco a faísca que me levará ao incendio de minha dor
Só busco os restos que ainda contam quem sou
E sou isso
Sou nada a espera da história que não consigo escrever.
queremos sangue
um final artístico
mítico
módico.
final periódico
cíclico
um artifício.
queremos ódio
um motivo célebre
nobre
justo.
motivo indispensável
puro
memorável
Grande resolução
Recapitulação.
Edição.
Corte
E é fim.
Propício.
Frente ao precipício, Romeo and Juliet. Op. 64. Prokofiev.
Pílulas de ódio.
Só falta-me motivo.
Estou segura de que me trará o melhor deles.
Procuro-o.
Memórias.
Quero as piores e mais ultrajantes.
Ajude-me.
Humilhação, auto-piedade, desprezo.
Ah, que boa lista temos.
É bom não esquecer.
Já sabemos que esta noite vamos ambos morrer.
Que o veneno seja o fel.
Que comece já.
O fim.

sábado, fevereiro 21

Sorte dos que arriscam
Que riscam itens de suas listas
Que sentem o medo a dar-lhes fôlego
e o amor a queimar-lhes a gengiva.

Sorte dos que desejam
Que despejam a alma ante o não
Em busca do que busca o coração
e da vida que lhes escapa às mãos.

Sorte dos que tem sorte
Que fogem da sombra da morte
Que matam as sedes e as urgências
e não as deixam assombrar.

Sorte dos que escutam o corpo
Ssaciam a alma
e sobrevivem ao caos.

Morte.

Nada tem a ver com sorte.
Sábios!
Sábios aqueles que sabem
Que com a sorte não podem contar.
Que com a vida caminham
com astúcia no olhar.

Sábios aqueles que arriscam
Prontos para tudo e pro nada
sem pestanejar.

Sábios aqueles que amam
Que escutam os pássaros
a ensinar a cantar.

Sábios aqueles que sabem
que o amor é urgencia,
é corpo e demência
e sabe bem saciar.

Sábios..
Sabedoria..
Nada tem a ver com isso!
Isso é vida.
E a vida não pode esperar.

sexta-feira, janeiro 30

Porque não estás aqui enquanto danço para ti
A pensar que poderias desenhar tua história em meu corpo
com nanquin e suor
Porque estás longe, enquanto rodopio em tua memória
branca e nua, a espera de um abraço
Porque sinto a presença pulsante de tua falta
E sinto a falta de teu toque
Danço
Porque não podes me ver
E cheirar meus cabelos
Porque se abrires os olhos
A realidade ainda está lá
Porque adormeço e me apaixono
Um dia e outro, outra vez
Porque acordo e não abandono
Danço
Rodopio em tua memória
Outra vez
Porque vens me visitar
Em meus sonhos, em meus dias
Porque rodopias em minhas lembranças
Porque dás voltas em meu coração.

sexta-feira, janeiro 16

O gato não subia o muro.
Agora já sobe.
A pequena já corre.
A miúda já namora.
Crescer às vezes machuca.
Já não me socorres.
Em cada curva, vivo.
Parte de mim já morre.